Robôs influenciadores digitais, mais uma tendência chinesa no varejo

Sem as limitações de seus concorrentes humanos, máquinas, como Ayayi, considerada a primeira influenciadora meta-humana, ganham cada vez mais espaço nas redes sociais

O que te faz admirar alguém? A resposta para essa pergunta ganhou tanta relevância que se tornou uma indústria – a de influenciadores digitais. Aparentemente glamourosa, a profissão cresce a um ritmo impressionante de maneira global. Mas o que parece ser uma fórmula repetida no mundo todo tem suas particularidades na China.

Desenhados em corpos perfeitos, vestindo roupas da moda, rostos que já vêm com filtro e com empregos reais, avatares e figuras virtuais estão se tornando cada vez mais interativos e humanos.

Criada pela empresa Ranmai Technology, Ayayi é considerada a primeira influenciadora chinesa meta-humana. Sua grande vantagem sobre outros influenciadores virtuais é justamente o realismo na sua aparência. As tecnologias mais recentes em modelagem 3D e os avanços em iluminação e texturização 3D tornaram isso possível. O jogo com luz e sombra em seu retrato faz dela praticamente uma pessoa real.

Nas fotos que publica no “seu” Instagram (https://www.instagram.com/ayayi.iiiii), aparece usando roupas e acessórios de grife, mostra sua rotina na academia, jantando com amigos. No universo em que circula, surgem também outros modelos digitais e até participações reais.

Ayayi posa para L’Oreal Paris. Crédito: perfil Ayayi no Weibo.

Também muito famosa em terras asiáticas e com três milhões de seguidores no Instagram, a conta @lilmiquela é o rosto de grandes marcas, como Prada e Nike, e um case publicitário. Criada há seis anos, Miquela tem DNA 100% digital, ou seja, só existe na internet, e se autodescreve como um robô de 19 anos vivendo em Los Angeles.

Miquela abriu um caminho fértil para colegas influencers e tem um impacto bem real, especialmente quando o assunto é marketing. Sem falar bobagens nem se expor demais, ela não se perde em polêmicas, não causa problemas, segue regras como ninguém e por não emitir opinião própria, nunca erra o tom.

Ainda assim, Miquela influencia, e muito. Tem seu penteado copiado mundo afora e muitos produtos indicados por ela esgotados. E é justamente daí que parece vir uma completa revolução. Com o mesmo poder de influência sobre sua audiência quanto um influenciador real, faz diferença para as marcas se Miquela foi gerada por um computador?

Pensando diretamente em vendas, Maurício Venancio, consultor em tecnologia para varejo, responde que não. Entretanto, pensando em relacionamento, faz muita diferença. Ele explica que embora tenhamos passado décadas vendo profissionais de carne e osso de muitas áreas sendo trocados por máquinas, o fator humano sempre foi determinante no varejo.

Por outro lado, com a popularização de ambientes virtuais, como Fortnite e Metaverso, influenciadores virtuais podem fazer mais sentido do que nunca. A questão a ser considerada, segundo o consultor, seria a seguinte: “em um momento em que as marcas trabalham tanto para se humanizar, seria a hora de investir em algo que nos distancia tanto das imperfeições da realidade?”.

A resposta é única para cada negócio, mas a quantidade de iniciativas desse tipo e os avanços em tecnologias de realidade virtual (VR) e realidade aumentada (RA) já indicam que o interesse é real em muitas partes do mundo. De acordo com a International Data Corporation (IDC), a China foi responsável por 54,7% dos gastos comerciais e de consumo em RA e VR em todo o mundo em 2020.

Nesse universo, grandes marcas de consumo, como Gillette, KFC, Pizza Hut e Tide estão dispostas a se conectar com jovens consumidores na China oferecendo patrocínios a personagens virtuais. Em janeiro do ano passado, o McDonald’s revelou seu próprio ídolo virtual, Happy Sister, como embaixador da marca na China.

No Brasil, a Lu, do Magalu, é o rosto mais conhecido desse fenômeno com quase 6 milhões de seguidores no Instagram. Nos últimos anos, ela tornou-se a voz da empresa nas redes sociais e já se apresentou ao vivo dividindo o palco com a cantora Anita.

Partindo do exemplo dessas criações computadorizadas, dotadas de personalidade e feitas para gerar identificação com os seguidores, Venancio destaca que o setor varejista teve de se reinventar muito na última década para satisfazer os consumidores. Nas palavras do consultor, está nas mãos dos grandes líderes fazer disso uma ameaça ou uma oportunidade – as possibilidades são infinitas e a corrida já começou.

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Fonte: reprodução de matéria de Mariana Missiaggia, publicada no Portal Diário do Comércio em 21.09.22. Link para o original: https://dcomercio.com.br/publicacao/s/robos-influenciadores-mais-uma-tendencia-chinesa-no-varejo.